quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pulmão frágil

Não é frágil pelos cigarros e outras coisas que mandam coisas ruins lá pra dentro. Muita coisa ruim entra e não é só o pulmão que filtra. Há coisas muito piores e os estragos vão além de um pulmão escuro. Os cigarros que estão presentes não afetam só os pulmões. Afetam a forma de pensar. O equilíbrio. O apetite. Na permanencia em casa. Na relação com as pessoas. Agora por exemplo, ele afeta meus pensamentos. Olho à minha esquerda e deparo com meu olhar caído. Deparo com meu rosto desfigurado e triste no espelho. Olho pra mim mesmo ali no reflexo e esperava ver outra coisa. Esperava ver uma pessoa sorridente devido a noite que tive. Adentrar esse mundo aqui tem sido difícil. Esse quarto é repleto de lembranças que doem. E eu fico aqui a noite toda recriando passos que já segui. Mas sempre o intuito é tentar que a sensação seja a mesma. E nunca é e nunca vai ser. Se o pulmão hoje é frágil é por uma opção. Opção de recusa. Recusa de ajuda. As pessoas estendem a mão e falta o ar para conseguir o impulso de apanha-la. Jogam corda, chamam a guarda nacional. E ninguém é hábil o suficiente para arrancar a pessoa ali do fundo. Ela criou raizes, laços, vínculos tão profundos que são tão inflexiveis que nem ele mesmo hoje seria capaz de quebrar. Realmente, é tudo uma questão de opção. Talvez seja por achar que se trate de uma virtude. Mas que diabo de virtude é essa que não faz bem a ninguém? Que tipo de virtude é essa que só machucou quem amo? Que diabos vem a ser isso? Eu sei por se tratar de mim. Eu sei, por que sou eu quem comete todos esses erros. Que joga tudo pro alto e não fica no lugar  exato esperando aquilo que supostamente cairia no mesmo lugar. Eu corro e corro pra longe e tudo cai ali, onde eu me encontrava. E quando olham ao redor em busca de mim eu já não estou mais lá. Estou longe. Fora do alcance. E as pessoas ficam procurando debaixo de cada pedra, atras de casa poste. E só encontram as minhas lembranças que ali se encontram. E eu fico lá do horizonte vendo as pessoas catarem minhas lembranças, tentando criar a partir delas, boas lembranças. Isso é impossível. Quando eu me sinto mal, eu volto lá na esperança de encontrar as mesmas pessoas que ali estiveram à minha procura e tudo que vejo são as suas costas. Cansaram. Eu tento correr mas o pulmão falha e eu caio no meio do caminho e fico ali mesmo. Na espera que alguém tente me jogar uma corda. Isso demora mas quando acontece volta tudo ao normal e todos os circulos se iniciam novamente.

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