domingo, 30 de dezembro de 2012

Foi Sangrenta

FOI SANGRENTA toda a terra do homem.
Tempo, edificações, rotas, chuva,
apagam as constelações do crime,
o certo é que um planeta tão pequeno
foi mil vezes coberto pelo sangue,
guerra ou vingança, armadilha ou batalha,
depois o esquecimento foi limpando
cada metro quadrado: alguma vez
um vago monumento mentiroso,
às vezes uma cláusula de bronze,
depois conversações, nascimentos,
Que artes temos para o extermínio
e que ciência para extirpar lembranças!
Está florido o que foi sangrento.
Preparar-se rapazes,
para outra vez matar, morrer de novo,
e cobrir com flores o sangue.




P. Neruda 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Passos no andar de cima me inquietam, mas a força para levantar parece estar muito mais além, muito mais distante. Pouca luz entra pela persiana semi-aberta e só consigo distinguir os contornos dos móveis e objectos espalhados caoticamente por todo o espaço. É isso. Mais um dia finda ao começar, uma vez que sei que nenhuma mudança cairá aos meus pés. Me sinto afundar, há algo em minha cama que suga minhas forças todas as vezes que estiro meu corpo sedento por repouso. Pra onde vão?
Mais cedo, quando a lua lutava por destaque em meio ao paredão alaranjado, que nos últimos dias tem tomado conta do céu de meu sono inquieto, tive um pesadelo. Não cabe contá-lo aqui. Não quero sentir medo de morrer mais uma vez. Minha imaginação, quando quer, monta cenários fantásticos e bizarros. Queria saber de onde tudo isso.
Ontem estive vagando pela cidade, como já é costume e pela manhã decidi me aventurar em uma área assombrada da cidade. Um lugar afastado, onde as linhas limítrofes do conselho são visíveis mas não palpáveis. Cheguei de cabeça erguida e eis que o desfile começa! O cenário, por mais que me trouxesse à cabeça lembranças mortas fazia materializar os espectros do medo, da dor. Dantes o coração enlouquecia, o corpo todo se destrambelhava e ânsias fortíssimas assomavam e eu me rendia ao lado de vómito carnicento, com uma pedra na garganta. E chorava. Mas é passado e o passado não morre. Temos tempo de sobra a aprender a lidar com ele, com a soma de todas as merdas e existências perdidas que cruzam ao longo desse pelejar sem sentido. As cenas que se desenrolam hoje, já perderem a estranheza do passado, do antes, de quando eu não era eu, antes da mudança, antes do fim! Dizem que o mundo acaba agora, para mim ele acabou há anos.
Refazendo os caminhos de antigamente me senti bem. Vi como as coisas se encaixaram bem para todos. Vi a beleza da vida em meio à lama  vermelha do bosque.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

"I thought it less like a lake and more like a moat.
The rhythm of my footsteps crossing flood lands to your door have been silenced forever more.
The distance is quite simply much too far for me to row
It seems farther than ever before
Oh no."

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

"Esses dias eu ouvi essa música no carro do meu pai e me senti mal por ter deixado nossa amizade passar assim, como se fosse uma coisa insignificante.
Sempre tive muita certeza de que você na minha vida seria uma presença "pra sempre". E me decepcionei muito por ver que naturalmente fomos nos afastando sem nenhum lutar pelo outro.. simplesmente acabou.

Eu podia ter feito alguma coisa pra evitar que nós tivéssemos nos distanciado. você também podia. mas não fizemos. e, nhê, é paia ver o quanto minha vidao mudou e que eu não tenho mais o meu melhor amigo pra compartilhar todas essas mudanças comigo. E é paia demais também quando algúém me conta um caso seu e eu primeiro não reconhecço meu ex-amigo nessas histórias.
Eu sempre soube que você era assim, Harry. Assim, bem do jeito que você é. Mas me iludi bastante achando que eu poderia te mudar do mesmo jeito que você me mudou. 
Não sei por que to falando isso. só deu vontade. e, por tudo o que nós já tivemos juntos, me senti livre pra poder te escrever todas essas coisas sem sentido. 

sei lá, f.

ô, Garry, obrigada por ter sido meu melhor amigo por tantos anos. eu sempre senti um carinho muito sincero por você. acho que as circunstâcias da vida nos afastaram e eu acho isso tudo uma pena, mas também não quero forçar nenhuma reaproximação forçada ou anti-natural. 

desculpa se eu te tradei de algum jeito esquisito nas últimas vezes que nos vimos ou falamos. não sabia como lidar com vcê na posição de um conhecido qualquer e nem consegui fingir que achava normal o nosso afastamento. 
hoje, eu vejo que é normal. triste, mas normal. 
não significa que a minha amizade com o fulano ou com a ciclana seja mais verdadeira, ela só e mais forte do que a nossa foi. 

se algum dia precisar de mim, pode ter certeza de que nunca vou te virar as cosastas. ainda sou muito fiel ao relacionamento que construímos. 

eu te amei de verdade, seu cão do inferno. 

tomara que as nossas vidas possam se encontrar de novo um dia pra eu poder sentir todas as coisas bnitas que eu senti por você de novo. 

beijo. "




Achei esse trecho hoje perdido em meio as teias de aranha e poeira. Meu coração doeu e eu fui obrigado a olhá-lo. Se encontrava na mesma situação. Teias de aranha e poeira. Muita poeira. Há tempos que não ouço nootícias de quem escreveu esse desabafo. Há tempos que não a vejo, que não sei se continua viva ou algo do gênero. Era minha melhor amiga. O pouco que ouvi, e isso já faz algum tempo, me deixou feliz. Feliz por ver que escolheu um caminho diferente do meu. Engraçado como as pessoas prezam seus futuros e sua integridade. Eu não. Eu fui pro "lado feio" da vida. Optei por queimar tudo aquilo que fazia parte de mim. Esperava que depois que tudo queimasse eu pudesse fazer minha vida crescer novamente. Um novo começo. Uma fenix. Lá na frente eu descobri que o ser humano ainda não possui esse poder. Vi que ao pó o homem torna. E houve pó. Oh! E como!
O estranho desse caso hoje, é ver que eu, depois de tudo, ainda tentei me erguer "razoavelmente", mais do que era suposto se esperar.

Minha querida ex-amiga partiu em um momento de perdas constantes. Eu não consegui e nem sabia como lidar com isso. Perdas diárias tomavam conta e não evitei cair em desespero. No fim eu o abracei e aceitei ir até onde ele quisesse me levar. E assim foi. As duas pessoas mais importantes que perdi tinham o mesmo nome. Motivo de confusão com quem vinha falar comigo e tocava nesse nome maldito. Engraçado como as pessoas confundem, ou confundem intencionalmente pra machucar. Hoje podem confundir a vontade. O nome não foi esquecido, nem será. Mas... Ah! Foda-se.

Esse trecho acompanhava uma música. Então mando-o de volta com uma música que a querida ex-amiga mostrou.

the day the whole world went away.
https://www.youtube.com/watch?v=y7fsHtkNU7w&feature=related

domingo, 16 de setembro de 2012

sem data

"É estranho como esses atos sempre culminam em náusea extrema, por mais que tente pensar em outra coisa, ou em outra pessoa. Esse é o problema do ato sexual em momentos de descaso consigo mesmo. Essas distrações que acabam vindo involuntariamente causam mais mal do que deveriam, e quando se é obrigado a dar desculpa mais vil possível, vai tudo pra merda. Aquilo que era uma fantasia pra outra pessoa se transforma num furacão de ressentimento, o qual não se livrará jamais."