quinta-feira, 21 de outubro de 2010

II

"A luz estava acesa. Passava da meia noite. Uma mulher se agitava de lá para cá. Estava brava com o filho. Que havia tentado deixar de fazer seu dever. Ela o castigara, forçando-o a fazer o dever durante a madrugada.  Na sala, passava o programa do Jô. No quarto, um garoto magro, de olhos fundos, brincava com os óculos. Achava engraçado ver sua mãe brava, andando de lá para cá, arrumando a casa durante a madrugada. Gostava daquilo. No quarto ao lado dormiam o padrasto e a irmã mais nova. Padrasto que era pai. A mãe gritava de lá e o menino fingia aprumar-se. Não queria saber de dever de casa. Queria ficar ali. Não queria acabar, pois quando acabasse,  as luzes seriam apagadas e ele teria que lutar contra o medo, até cair no sono. Não, ele queria ficar ali até o sol nascer. A mãe vinha e sua mão também. O garoto chorava. A mãe berrava. Aquilo era normal já. Havia habituado-se. No quarto ao lado, o padrasto acordava e gritava: "Pára de bater no menino, são uma da manhã!" E isso só deixava a mãe mais nervosa. Ficava que nem uma barata tonta de lá pra cá. Ia arrumando tudo que via pela frente. Lutava para manter-se acordada para que o filho cumprisse suas obrigações. O menino voltava a brincar  com os óculos e sabia que  se a mãe o pegasse ali,  apanharia de novo. Assim a madrugada seguia."    

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