quarta-feira, 20 de outubro de 2010

9:23

Eram 9:23 da manhã. O telefone tocava. Na cama, dormia uma rapaz magro. Era um comodo pequeno para tanta bagunça. O rapaz acorda em tempo de chegar ao telefone, mas não foi rápido o suficiente. Tropeçava em objetos que se espalhavam pelo chão. Um tênis. Um livro.  Uma lata. Roupas. Um dicionário. Pensava que só poderia ser uma pessoa que o ligaria em uma hora daquela. Discou o número e aguardou. No outro lado da linha uma voz sonolenta respondia:
- Alô? - disse
- Foi você quem ligou aqui agora? - perguntou o rapaz.
- Não, acabei de acordar.
- Ah...
O telefone foi desligado e ele ficou um bom tempo escutando o sinal de uma ligação perdida. Voltou para a cama. Sentia fome e fraqueza. O dia não começava bem. Não dormia bem, isso já era uma tradição. Em sua boca, sentia o gosto de todos os cigarros junto com o resto daquilo que se encontrava em seu estomago. Deitava e não pensava em levantar-se. Talvez para ir ao banheiro, mas sempre adiava a viagem que seria até lá. Preferia ficar ali prostado. A única coisa que o faria levantar com mais facilidade, seria para tomar um banho. Era a coisa que mais gostava de fazer. Entrava e fechava a porta. Era um banheiro pequeno, em forma de trapézio com duas luzes de cor amarela, de azulejos em cor marrom. Era confortável ali.  Ligava o chuveiro e ali ficava sentindo  a agua cair em seu corpo. Ali dentro pensava com mais clareza. Demorava o maior tempo possivel. Conseguia ordenar a maior parte de seus pensamentos vagos. Construía sonhos e fazia planos para o futuro. Talvez por que ali dentro, não hovesse futuro. É claro que não poderia ficar ali até o fim dos tempos. Então, pensar no futuro em um lugar onde ele não exista, era fácil. Desligava o chuveiro. Levantava-se do chão. Parava em frente ao espelho. Olhava seu reflexo. Não sabia dizer se era ele mesmo. Não conseguia dizer de quem era aquela forma que ali se apresentava. Isso era bom. Não queria ver seu rosto. Imaginava que poderia aparecer qualquer coisa. Ficava vários minutos, até que o vapor se dissipasse. E a água escorresse espelho a baixo. Encontrava ali, o rosto  que já conhecia. O seu rosto. Desviava o olhar e abaixava a cabeça. Agora, preferia abrir a porta e enfrentar a verdadeira realidade.   Abria a porta e arrepiava devido ao vento frio. Encarava toda aquela bagunça e pensava em arruma-la.  Voltava nu e deitava na cama. Arrumaria aquilo no dia seguinte, quando acordaria com o telefone tocando. Todos os seus dias, se baseavam na mesma rotina. Nem saberia ao certo dizer se o telefone  realmente tocava.

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