Entrava naquele prédio de três andares que há tempos passava suas noites, guardava a bicicleta e reparava na ausência de carros na garagem. Era sábado e a maioria dos que ali moravam estavam na rua. Os poucos que ficavam se entretiam ou fazendo sexo ou com algum tipo de ''felicidade química'' em seus cubículos.
Era um apartamento pequeno em que vivia, no terceiro andar, mas aconchegante. Tirando a bagunça, que as vezes tornava difícil a concentração até para escovar os dentes. Era esse o estado pelo qual se preparava para encarar assim que abrisse a porta e se surpreendeu. Nem precisou acender a luz para perceber que Lia havia passado por ali. Olhou no relógio e se lembrou que era sábado, dia que Lia passava por lá para limpar o apartamento. Foi pegar uma água e viu o bilhete na geladeira:
"Deixei um bolo no forno, veja se come, rapaz! Depois precisamos mandar o tapete do escritório para lavar, tá ficando difícil tirar o cheiro de cigarro lá de dentro e tome cuidado, uma hora você acaba colocando fogo lá dentro, vi o tamanho do buraco no tapete. Vê se toma jeito! Ligo durante a semana. Lia
Ps.: Deixe o dinheiro na caixa de correio."
Era impressionante a capacidade que ela tinha em aproveitar tudo quanto é coisa. Foi até ao escritório procurar um cigarro e notou que seu maço de Camel havia desaparecido misteriosamente. Há tempos que lia sumia com todos os maços. Acabou rindo da velha maldita, pois sabia que toda vez apenas um terço dos cigarros iam pro lixo. Separou o dinheiro e deixou em cima da mesa e foi fazer um chá. Costumava deixar apenas a luz da cozinha ligada. Começava a chover lá fora. Lembro-se dos cigarros e desistiu do chá.
[...]
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