domingo, 10 de abril de 2011

As ruas estavam todas vazias e ainda molhadas. Fazia um pouco de frio, mas Luke não sentia ou não se importava enquanto pedalava pra casa. Fez questão de parar em uma praceta e ficou por alguns momentos observando os bancos e brinquedos todos vazios aquela hora da noite. Alguns homens fechavam uma lanchonete e fumavam seus cigarros pós-expediente. Os homens costumavam fumar ou beber para sentirem um pouco de prazer ou, em sua grande maioria, para esquecer de algo ou minimizar alguma dor qualquer fosse a sua natureza. Luke fumava e bebia. Era um daqueles que bebiam para afogar a dor. Ultimamente havia se entregado com uma frequencia bem maior do que a costumeira  a esse vício. Deixou-se estar por alguns momentos observando os homens recolherem mesas e cadeiras e se assustou com um carro que passava  ao seu lado. Estava tão absorto que não ouviu a aproximação do carro e só se deu conta quando havia sido molhado. ''Puta que pariu!'' pensou ele olhando a lama que se espalhava pelo seu jeans, olhou mais uma vez a praça e os prédios que se erguiam a sua volta e continuou subindo a rua. Era penoso passar por ali, mas nunca conseguia evitar. Cada dia que passava as noites ficavam mais longas, o que era ao mesmo tempo algo bom e ruim pois veria o sol por menos tempo, mas por outro lado mais horas para se entregar a pensamentos que seriam difíceis de lidar naquela altura. "Não posso esquecer de começar a tirar os casacos do maleiro".
Entrava naquele prédio de três andares que há tempos passava suas noites, guardava a bicicleta e reparava na ausência de carros na garagem. Era sábado e a maioria dos que ali moravam estavam na rua. Os poucos que ficavam se entretiam ou fazendo sexo ou com algum tipo de ''felicidade química'' em seus cubículos.
Era um apartamento pequeno em que vivia, no terceiro andar, mas aconchegante. Tirando a bagunça, que as vezes tornava difícil a concentração até para escovar os dentes. Era esse o estado pelo qual se preparava para encarar assim que abrisse a porta e se surpreendeu. Nem precisou acender a luz para perceber que Lia havia passado por ali. Olhou no relógio e se lembrou que era sábado, dia que Lia passava por lá para limpar o apartamento. Foi pegar uma água e viu o bilhete na geladeira:

"Deixei um bolo no forno, veja se come, rapaz! Depois precisamos mandar o tapete do escritório para lavar, tá ficando difícil  tirar o cheiro de cigarro lá de dentro e tome cuidado, uma hora você acaba colocando fogo lá dentro, vi o tamanho do buraco no tapete. Vê se toma jeito! Ligo durante a semana. Lia 

Ps.: Deixe o dinheiro na caixa de correio."

Era impressionante a capacidade que ela tinha em aproveitar tudo quanto é coisa. Foi até ao escritório procurar um cigarro e notou que seu maço de Camel havia desaparecido misteriosamente. Há tempos que lia sumia com todos os maços. Acabou rindo da velha maldita, pois sabia que toda vez apenas um terço dos cigarros iam pro lixo. Separou o dinheiro e deixou em cima da mesa e foi fazer um chá. Costumava deixar apenas a luz da cozinha ligada. Começava a chover lá fora. Lembro-se dos cigarros e desistiu do chá.

[...]

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